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Quanto o mundo depende de petróleo e gás da Rússia?

Após a invasão à Ucrânia, vários
países impuseram duras sanções que devem representar um grande golpe em um
ponto forte da Rússia: o setor energético. Os Estados Unidos proibiram as
importações de petróleo e gás russos, enquanto Reino Unido e União Europeia
anunciaram reduções nas suas importações. Mas qual é o tamanho da dependência do
Ocidente do gás e petróleo que vêm da Rússia? Sou Julia Braun, da BBC Brasil, e neste vídeo vou
mostrar alguns dados que dão uma dimensão disso. Pra começar, a Rússia exerce um papel muito importante no cenário global
quando o assunto é energia. Por isso a invasão à Ucrânia tem levado
a uma alta nos preços dos combustíveis ao redor do mundo – incluindo no Brasil. O
preço do barril de petróleo, por exemplo, atingiu valores recordes, acima dos 100 dólares
por barril, o que não acontecia desde 2014. A Rússia é a terceira maior
produtora de petróleo do mundo, atrás apenas dos Estados
Unidos e da Arábia Saudita. Em janeiro de 2022, a produção total de petróleo
da Rússia foi de 11,3 milhões de barris por dia. Para comparação, a produção total de
petróleo dos Estados Unidos foi de 17,6 milhões de barris por dia, enquanto a Arábia
Saudita produziu 12 milhões de barris por dia. Mas se incluirmos nessa conta conta o petróleo
cru e seus derivados, como gases liquefeitos, gasolina, nafta, querosene e outros, a Rússia
toma a frente como maior exportadora do mundo. Por causa disso, há quem diga que a economia russa é uma espécie de grande
posto de gasolina do mundo. O fato é que a Rússia tem um papel importante
como fornecedora de energia para muitas economias ocidentais, embora o grau de dependência
varie de acordo com o país ou região. No caso da Europa, por exemplo, esse
nível pode ser considerado bem alto. Segundo dados da Eurostat, a agência
de estatísticas da União Europeia, a maior parte do petróleo que
abastece o continente vem da Rússia. Por volta 60% da produção do país vão para os
países europeus membros da OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
Ou seja, os países mais ricos da região. A China, sozinha, fica com 20% do total. Como são líderes mundiais em produção de petróleo,
os Estados Unidos são bem menos dependentes. Apenas 3% do que se consome por lá vem da Rússia. Mas quando o assunto é gás combustível, que é
utilizado principalmente para o aquecimento e produção de eletricidade, nenhum país no
mundo tem mais reservas do que a Rússia. Os Estados Unidos não importam
esse recurso da Rússia, mas o mesmo não se pode dizer da União Europeia. Em 2021, 40% de todo o gás consumido
dentro do bloco veio do país. A Rússia fez diversos investimentos em infraestrutura para canalizar
seu gás natural para a Europa. Um dos principais deles é o NordStream,
gasoduto que conecta diretamente Rússia e Alemanha, país que é um dos principais
importadores de gás russo na União Europeia. Também existem mais gasodutos que saem da Rússia e passam por outros países até
chegarem ao bloco europeu. E é aqui que a Ucrânia entra nessa história. Em 2009, 60% do gás que saía da da Rússia
com destino à União Europeia passava pela Ucrânia, o que rendia milhões de
dólares à ex-república soviética. Em 2021, essa quantidade caiu para 25%. Após o início da guerra e as sanções impostas
pelo Ocidente, a Rússia ameaçou cortar o fornecimento de gás à Europa, consciente de que
o continente depende da energia produzida por lá. Mas o que aconteceria se a Europa
Ocidental ficasse sem o gás russo? Para começar, as pessoas
sentiriam o impacto no bolso. Prova disso é que desde que o conflito
com a Ucrânia se intensificou, o preço do aquecimento na Europa disparou, com aumentos
que chegam a mais de 100% em alguns países como o Reino Unido. Lembrando aqui que a guerra
começou no fim do inverno no Hemisfério Norte. E se a Rússia decidir cortar o fornecimento,
os preços tendem a aumentar ainda mais. A Alemanha, país mais rico da
Europa, seria uma das mais atingidas, já que está entre as nações
mais dependentes do gás russo. Por outro lado, a Rússia fornece apenas
cerca de 5% do gás consumido no Reino Unido, e os Estados Unidos não importam o gás russo. Mas isso não significa que esses países
não seriam afetados por um eventual corte, já que a possível escassez de gás faria com
que os preços subissem no mercado mundial. Mas será que não existem alternativas
para substituir o gás russo? Bom, isso não seria uma tarefa fácil. Isso porque, gasodutos não são o tipo de
obra que se constrói do dia para a noite. Uma possível solução seria substituir
o gás encanado pelo liquefeito, que pode ser transportado por mar e por terra. Em 2021, já no contexto de tensões entre
Rússia e Ucrânia, os Estados Unidos se tornaram o principal fornecedor de gás natural
liquefeito à União Europeia e ao Reino Unido, com 26% do total de importações, seguido
pelo Catar, com 24%, e pela Rússia, com 20%, Em janeiro de 2022, poucas semanas antes da
invasão russa à Ucrânia, os Estados Unidos já eram responsáveis pelo fornecimento de mais da
metade das importações do produto pela Europa. Há quem diga que este seja um bom momento
para incentivar outras fontes de energia como as renováveis, mas isso, segundo
analistas, não seria rápido nem fácil. O mais provável é que as usinas termelétricas
movidas a carvão, as mais poluentes, fossem as possíveis substitutas do
gás russo em caso de emergência, conforme já anunciaram Itália e Alemanha. Quando o assunto é petróleo, a situação é um pouco mais simples, já que existem outros
fornecedores disponíveis no mercado. Os Estados Unidos já têm pedido à
Arábia Saudita que aumente sua produção. Mas os árabes ainda não atenderam ao
pedido porque, ao aumentar a produção, o país aumentaria também a oferta do
produto, o que causaria uma queda nos preços. E isso não interessa nem um pouco à Arábia Saudita
que, vamos lembrar aqui, é a vice-líder mundial em produção de petróleo atrás justamente dos Estados
Unidos, e maior exportadora global do recurso. A Arábia Saudita também é o país que mais produz
petróleo dentro da Opep, o grupo de países com reservas de petróleo que responde por cerca
de 60% do óleo cru comercializado no mundo. O grupo exerce grande influência
no mercado mundial por ter em suas mãos o poder de simplesmente abrir
ou fechar a torneira de produção. Embora a Rússia não pertença oficialmente à
Opep, ela tem influência dentro da organização. E tem trabalhado com alguns membros desde
2017 para estabelecer limites na produção de petróleo para preservar
os lucros dos produtores. E como fica a América Latina em tudo isso? Bom, o aumento nos preços por um lado beneficia
as economias de países produtores de petróleo. Brasil e México são os principais
produtores da região, enquanto Venezuela, Equador, Colômbia e Argentina também
produzem, mas em menor quantidade. O problema é que a alta no petróleo faz
os preços de quase tudo subirem também, já que o transporte de grande parte dos
produtos depende de combustíveis fósseis. Ou seja, as empresas petroleiras da América
Latina como a Petrobras, a Pemex, ou a PDVSA podem até ganhar mais dinheiro, mas isso não vai
ser suficiente para reduzir o impacto da inflação na economia, que fará com que os consumidores
tenhamos que pagar mais pelos produtos. Além disso, muitos produtores latino-americanos
exportam petróleo, mas importam gasolina. Com o aumento no preço do petróleo
e a consequente alta da gasolina, esse passa a não ser mais
um negócio tão interessante. Para outras economias como as de Chile ou Perú,
que não produzem petróleo, a situação é ainda mais difícil, pois esses países só vão poder assistir
ao aumento dos preços, sem poder fazer muito. Por outro lado, na mesma semana em que proibiram
as importações de petróleo russo, os Estados Unidos voltaram a conversar com a Venezuela, após
anos de congelamento nas relações entre os países. Embora não tenha revelado muitos
detalhes, a Casa Branca disse que a segurança energética tinha
sido um dos assuntos em pauta. Vamos lembrar aqui que antes das sanções
impostas ao regime de Nicolás Maduro, a Venezuela era um importante fornecedor
de petróleo para os Estados Unidos. Mas em suma, os dados que eu apresentei
aqui no vídeo mostram a interdependência entre Rússia e o Ocidente em relação à energia, o que explica a dificuldade em impor sanções
nesse campo, mesmo em tempos de guerra. Com isso eu fico por aqui. Se você gostou deste vídeo, não
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